A experiência de adaptação a um ambiente estrangeiro, como ocorre na imigração, é tão intensa e complexa que pode tornar-se significativamente modificadora dos nossos referenciais. E por quê? Ora bem, em algumas pessoas o choque com uma nova cultura, o distanciamento dos laços familiares, afetivos, linguísticos, entre outros poderá originar mal-estar subjetivo, distress emocional e sentimentos de inadequação.
Esta experiência poderá ser semelhante ao luto. Entretanto o objeto de luto, ou seja o país de origem, continua vivo e até mais enaltecido, o que torna mais complexo o processo de resolução deste luto, convertendo a adaptação ao novo país numa experiência mais dolorosa, complicada e demorada, principalmente em situações de maior vulnerabilidade social (escasso suporte psicossocial) e econômica.
E neste sentido, para algumas pessoas a experiência de imigração, após o período de fascínio pelo novo país, poderá não ser positiva e edificadora, sendo antes potencializadora da perda da identidade, da autoestima e de sentimentos de solidão, insegurança, sintomas de irritabilidade, hostilidade, nostalgia, tristeza e ansiedade. O stress crónico ou múltiplo, dos quais estes sintomas fazem parte é denominado por Elsa Lechler (2007) como a “Síndrome do imigrante”.
A ausência da estrutura familiar e de outros elementos da rede de apoio social podem aumentar a vulnerabilidade psicoemocional. Por outro lado, as estratégias positivas de adaptação e ajustamento psicossocial do imigrante dependem de seus próprios recursos favorecidos por elementos caraterísticos do país que o acolhe (língua, cultura, etc.).
Então, o que fazer quando a adaptação torna-se lenta e dolorosa? O reconhecimento de que algo não vai bem é sempre o primeiro passo. Normalmente, o sofrimento subjetivo apenas é percebido após bastante tempo (até anos), e passa a ser compreendido como parte da estrutura pessoal do imigrante que apesar de notar constantes alterações emocionais e de humor (tristeza, insônia, apatia, irritabilidade, baixa tolerância à frustração, etc.) acredita que estas fazem parte da nova pessoa que se tornou após a emigração. Sendo certo que a “aculturação” (integração e assimilação de uma nova cultura) provocará mudanças “saudáveis” nas estruturas identitárias da pessoa que emigra, mas não o sofrimento psíquico.
De qualquer forma, deve procurar nutrir sentimentos positivos nas interações com pessoas e elementos de outras culturas para aumentar a eficácia intercultural e (re)visitar sempre o país de origem, seja através de uma viagem, seja através da preparação de um prato típico, do convívio com os conterrâneos, ou fazendo uso das novas tecnologias (redes sociais, skype, whatsapp, viber, etc.) para manter contato com os familiares e amigos.
Convém ainda ressaltar que não temos a intenção de problematizar (ou patologizar) a situação de expatriados, mas é necessário estarmos atentos para alguns sinais de alerta que, embora não seja comum a todos, poderão afetar alguns imigrantes.